Suponha que você está martelando um prego. Seu objetivo é
o prego enterrado na madeira, a situação atual é você com o prego em uma das
mãos e o martelo na outra. Você tem um roteiro interno, uma estratégia de dar
algumas marteladas com uma certa força. Você dá a primeira martelada, observa o
resultado: o prego mal penetrou a ponta. Com essa informação você verifica que
a madeira é mais dura do que imaginara, e dá outra martelada, desta vez mais
forte. O prego, ao invés de penetrar, se dobra.
Esse exemplo demonstra o que pode ocorrer no dia a dia:
nem sempre podemos prever com precisão quais são os comportamentos que conduzirão
aos resultados que desejamos. Isso ocorre com coisas e principalmente com
pessoas, com sua capacidade de escolher e mudar. O inesperado é portanto algo
que se pode esperar que aconteça!
E se nem sempre podemos prever o que vai acontecer, para
que consigamos nossos objetivos é necessário que estejamos continuamente
obtendo os feedbacks dos resultados das nossas ações para podermos
atualizar nossos mapas e ajustar nosso comportamento. Esse ajuste só pode ser
feito com informação "fresca", do momento presente.
A conclusão é que, embora tenhamos estratégias
padronizadas instaladas e disponíveis para aplicação, decidir qual será a
melhor estratégia ou combinação de estratégias a ser executada é algo que é
feito a todo o momento. Para isto, precisamos estar prestando atenção
aos resultados do que fazemos e precisamos decidir quando apropriado.
Nos exemplos dados de estratégias em execução, você viu
que às vezes o personagem "sente-se mal" ou "sente ciúme".
A dimensão emocional é de natureza energética, e não pode armazenada como etapa
de uma estratégia. A emoção, portanto, e da mesma forma que a atenção e a
decisão, é um processo do momento
presente. Viver é assim um ciclo permanente de perceber, decidir e sentir, enquanto
nossas estratégias suportam nossos comportamentos em direção aos objetivos.
Note que embora estamos nos referindo a esses processos
por substantivos, o mais apropriado seria usar os verbos: estamos percebendo,
estamos decidindo, estamos nos emocionando ou sentindo.
Atenção
A capacidade de
perceber se destina a captar informações do ambiente e sobre o próprio
organismo. Consideramos aqui a atenção como a percepção direcionada.
A atenção é
bastante flexível: pode estar voltada para o ambiente ou para a própria pessoa.
Por exemplo, posso olhar para a minha mão ou perceber uma sensação na mão. A
atenção pode estar voltada para a própria mente: posso perceber uma imagem
interna que estou produzindo. Ao lembrar, momentaneamente minha atenção vai
para o passado, e ao planejar, presto atenção ao que está representado como
futuro.
Há milhares de estímulos aos quais podemos
prestar atenção. Pense em uma paisagem: podemos vê-la como um todo ou em
pequenos segmentos. Podemos olhar uma montanha ou uma árvore na montanha.
Podemos atentar para o contorno da montanha ou para um pequeno trecho dele. Se
perto o bastante, podemos olhar para uma folha de uma árvore, também como um
todo ou para um pequeno segmento. Podemos prestar atenção a cores, formas ou
texturas.
A atenção pode ser direcionada pelo que queremos.
Se só queremos saber o que há lá, a atenção se dirige para o todo e para coisas
e objetos; se vamos desenhar, precisamos observar detalhes precisos da imagem,
importando menos se há coisas ou objetos.
Esta capacidade de direcionar a atenção tem
duas conseqüências importantes. Primeiro, cria o fenômeno da eliminação de informação. Ao prestar atenção em algo,
eliminamos outras coisas. Segundo, considerando que as estratégias podem ser
iniciadas por estímulos e contextos, diante de um mesmo quadro podemos variar
as estratégias que serão executadas mudando o que enfatizamos na percepção.
Decisão
Nossas
estratégias internas, em maior ou menor grau, nos conduzem a escolher: fazer ou
não fazer, fazer isto ou aquilo. Podemos também escolher valores, objetivos,
crenças. Embora tenhamos objetivos e valores, nada efetivamente nos obriga a
fazer qualquer coisa, podemos ficar estáticos para o resto da vida. Podemos ter
estratégias de decisão, que nos proporcionam alternativas e critérios, mas
ainda assim será necessário o elemento adicional da vontade pessoal.
A efetividade de
nossas decisões depende da riqueza de opções geradas por nossas estratégias e
da riqueza de nossos mapas, ou seja, nossos conhecimentos e direções. Diante de
um obstáculo, por exemplo, pode ser gerada a opção de desistir ou alternativas
variadas de solução.
E como já vimos,
o único momento em que uma decisão pode acontecer é no presente. Não parece
fazer muito sentido escolher ontem ou amanhã.
Certos autores
admitem a possibilidade de haver escolhas inconscientes, ou seja, a pessoa não
tem como saber como decidiu. Essa idéia é questionável por dois aspectos. O
primeiro é que as decisões em estratégias na qual é pessoa é competente
inconsciente são tomadas muito rapidamente. Como exemplo, considere um jogador
de basquete que conduz a bola, dribla um adversário, joga a bola para um colega
e entra no garrafão para receber a bola e arremessar para a cesta. Toda a
jogada dura um segundo. Se perguntarmos ao jogador o que o levou a fazer a
jogada, ele poderia dizer “Bem, eu vi que podia passar pelo espaço à direita do
jogador deles e arremessar, mas no meio do caminho vi meu colega em boa posição
e resolvi melhorar a posição do arremesso e graças a Deus fui feliz”. O jogador
de fato avaliou situações e tomou várias decisões em frações de segundo, para
conduzi-lo ao objetivo. E assim como esse jogador se lembra do que fez, outras
pessoas não se lembram, o que é o segundo aspecto. Decidiu, só não está se
lembrando no momento.
Emoção
Você deve ter
notado, nos exemplos acima, que em alguns momentos da execução de uma
estratégia o personagem sente algo, e
isto influencia o resultado. No caso da calça rasgada, ele sente-se mal ao
imaginar que podem vê-lo na situação, e isto influencia sua decisão de agir.
Veja um outro
exemplo de estratégia que envolve emoções:
·
Alguém está ministrando uma palestra e percebe
algo diferente, como uma sensação incômoda na parte interna da boca.
·
Avalia a situação e reconhece-a como
"sede"
·
Baseado em sua experiência, Alguém projeta
mentalmente um futuro pior se nada for feito: dali a pouco não vai conseguir
nem falar. Sente sensação de “ansiedade”.
·
Identifica possíveis alternativas de solução: a
primeira que lhe ocorre é interromper a palestra e ir ao bebedouro. A segunda é
pedir a algum assistente para trazer água. A terceira que lhe ocorre é beber a
água da mesa, que deve estar morna.
·
Ao avaliar a primeira alternativa, imagina como
será desagradável parar a palestra.
Ao avaliar a segunda, aplica um critério que diz que deve evitar pedir coisas a
outra pessoa que ele mesmo possa fazer, porque ele se sentiria desconfortável. . A terceira opção é
avaliada como tendo um prazer mediano, já que a água está morna.
·
Alguém escolhe a alternativa mais prazerosa.
Se não houvesse
água na mesa, talvez Alguém escolhesse a opção menos desagradável dentre as que elaborou.
Esses exemplos
demonstram que a emoção é parte integrante dos processos internos, e não pode
ser dissociada da inteligência de uma pessoa (embora uma pessoa possa aplicar
alguma estratégia destituída de componentes emocionais). Ou seja, embora seja
possível descrever uma estratégia sem seus passos emocionais, ela será mais
completa quando incluí-los. Isso também ajuda a explicar porque às vezes uma
estratégia pode funcionar para uma pessoa e não para outra.
As emoções podem
ter papéis variados no contexto da execução das estratégias. Primeiro, podem
ser utilizadas como critério de decisão, para "pesar" alternativas,
como no exemplo acima. Segundo, provêm energia para a ação. Algumas emoções são
grandes fornecedoras de energia para a ação, como a raiva, o entusiasmo e a
paixão. As emoções também podem ser de afastamento, como o nojo. Essas nos
protegem de coisas potencialmente nocivas ao nosso organismo.
Podemos escolher emoções?
Enquanto que as
decisões constituem o aspecto proativo do ser humano, as emoções são o aspecto
reativo. Uma das descobertas mais sensacionais da PNL é que o que sentimos ou
deixamos de sentir está diretamente ligado à estrutura das representações
internas que fazemos, é uma reação a essa estrutura. Veja o que Bandler [1987]
diz:
"Quantos
já pensaram sobre a possibilidade de variar, intencionalmente, a luminosidade
de uma imagem interna para modificarem as suas sensações? A grande maioria das
pessoas deixa o cérebro mostrar, de maneira aleatória, as imagens que quer, e
reagem sentindo-se bem ou mal a elas.
Agora pensem em algo desagradável, que os
façam sentir-se mal. Escureçam a imagem, cada vez mais... Se diminuírem o
suficiente a luminosidade da lembrança, ela não mais os incomodará. E com isto,
todos poderão economizar muito dinheiro gasto em psicoterapia."
Quando afirmamos
que "Fulano me fez ficar com raiva", estamos na verdade expressando
"Estou representando o Fulano internamente de uma forma tal que reajo com
raiva". Isto abre inúmeras possibilidades para lidar com emoções e ter
melhores opções.
Acredito que não
podemos escolher emoções diretamente,
mas podemos escolher as representações internas e estruturá-las de forma que
provoquem as emoções que quisermos. Imagine a possibilidade de dispormos de
estratégias para essa finalidade, nas quais tenhamos competência inconsciente!
Atividade 30 – Leitura: A iluminação do "maluco"
Conduzi há alguns anos um programa
de Confirmação em Scottsdale, Arizona. No meio do seminário, um homem
levantou-se de um pulo, e começou a cutucar as pessoas ao redor com a mão, como
se empunhasse uma faca, ao mesmo tempo em que berrava:
- Estou apagando! Estou apagando!
Um psiquiatra, sentado duas filas à
sua frente, gritou:
- Oh, não! Ele está tendo um
colapso psicótico!
Por sorte, não aceitei o rótulo do
psiquiatra. Ainda não desenvolvera o conceito de metáforas globais; fiz apenas
o que melhor sabia fazer. Interrompi o padrão do homem. Aproximei-me, e disse:
- Então se acenda! Trate de se
acender agora!
Ele ficou aturdido por um momento.
Parou o que fazia, e todos observaram, à espera do que aconteceria em seguida.
Em poucos segundos, o rosto e o corpo do homem mudaram, ele passou a respirar
de um modo diferente. Insisti:
- Acenda-se todo.
Perguntei depois como ele se sentia
agora, e a resposta foi:
- Assim é muito melhor.
Mandei que ele sentasse, e continuei com o
seminário. Todos pareciam desconcertados, e confesso que eu também me sentia um
pouco surpreso pela manobra ter dado certo com tanta facilidade. Dois dias
depois, o homem me procurou e disse:
- Não sei o que deu em mim, mas
completei quarenta anos naquele dia, e de repente me senti completamente
perdido. Tive vontade de cutucar as pessoas, porque me senti na escuridão, que
ameaçava me apagar por completo. Mas quando você disse para eu me acender, tudo
se iluminou. E me senti todo diferente. Passei a ter novos pensamentos, e hoje
me sinto muito bem.
(De Poder Sem Limites,
Anthony Robbins, Best Seller)
Atividade 31 – Você está com fome?
Pense em um de seus pratos preferidos, daqueles que
você tem grande prazer em saborear. Procure colocar-se mentalmente em cada
situação abaixo, e perceber o que sentiria, em termos de atração ou afastamento
(se preferir, não é preciso atribuir um nome ao que sentir).
a)
Você não tomou café da manhã, está morrendo de fome, e aquele prato está à
sua frente.
b)
Você comeu uma feijoada tão boa, mas tão boa que comeu muito além do que
precisava e julgava caber no estômago, e
se sente extremamente enfastiado e até arrependido. E aquele prato predileto
esta à sua frente.
Atividade 32 – Há diferença?
Pense em algum objetivo. O
que sente em relação a ele?
Agora pense em algo que tem que fazer. O que está sentindo?
Atividade 33 – Saia dessa
Você é o piloto de uma nave
espacial de emergência, levando vacinas para uma colônia da Terra a vários
anos-luz. Sua nave é de emergência, e possui o menor peso possível, quase nada
é desprezível, e o combustível foi estritamente calculado para atingir o
planeta de destino. A nave, após acelerar, segue por inércia, e está a 45
minutos de religar os motores para os procedimentos de chegada, quando o
computador de bordo acusa excesso de peso de 53 quilos, o que, persistindo,
comprometerá a conclusão da viagem. Você desconfia, procura e acaba descobrindo
uma clandestina que lhe informa estar querendo encontrar na colônia o irmão que
não vê há 5 anos. Se a mantiver na nave, o combustível não será suficiente para
levar as vacinas. Você verifica pelo rádio que não há nenhuma outra nave na
área.
Elabore alternativas de
ação e tome a decisão final. Verifique se há emoções envolvidas.
(de um episódio da série de TV Além da Imaginação).
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