2. O que há lá dentro

Você gosta de jiló? Ou de fígado? Talvez você adore, odeie ou seja indiferente ao sabor desses alimentos. Talvez conheça alguém diferente de você, se não nesses, em outros alimentos.
Você provavelmente não tem medo de escuro, pelo menos não da maioria deles. Mas há pessoas que têm. Há também pessoas que têm medo de altura ou fobia de barata. Há pessoas que têm mais iniciativa, e outras menos. Outras têm mais iniciativa sob certas condições. Há pessoas mais obedientes e outras mais rebeldes, mais ou menos sensíveis à forma de falar, mais ou menos persistentes, mais ou menos afetuosas, mais ou menos corajosas.
Enfim, somos diferentes. E o que nos torna diferentes? O que faz com que duas pessoas, diante da mesma situação, ajam ou reajam de maneiras completamente diferentes? A resposta para todas essas perguntas tem a ver com o fato de sermos seres inteligentes. Sendo inteligentes, percebemos o mundo e guardamos nossas experiências para usar depois. Sendo inteligentes, temos objetivos, dos quais precisamos nos lembrar. E sendo inteligentes, aplicamos nossa experiência para elaborar e escolher os comportamentos que acreditamos que vão nos conduzir aos objetivos.
É preciso haver uma forma de representação interna da nossa experiência e dos nossos objetivos, de forma a podermos referenciá-los quando quisermos e definir as estratégias. Nossas representações devem responder, por exemplo: como sei qual é o estado atual das coisas? Como sei o que tomei no café da manhã de ontem? Como sei o quero fazer de diferente no mundo? Qual é a melhor estratégia para atingir meus objetivos? O que vou fazer a seguir? Bandler e Grinder (1975) expressaram esse fato assim:
"Nós como seres humanos não operamos diretamente no mundo. Cada um de nós cria uma representação do mundo em que vivemos – isto é, criamos um mapa ou modelo que usamos para gerar nosso comportamento. Nossa representação do mundo determina em grande escala o que será nossa experiência do mesmo, como perceberemos o mundo, que escolhas teremos à disposição enquanto nele vivermos".
Percebemos o mundo através dos sentidos: vemos, ouvimos, sentimos, provamos, cheiramos. É natural que nossas representações do mundo percebido também usem esses canais sensoriais. Os mapas com que representamos internamente o mundo usam esses mesmos canais representacionais.
Um outro canal usado para representar o mundo é o lingüístico. Podemos usar a linguagem, por exemplo, para coisas concretas (cachorro, pedra), abstrações (paz, harmonia), para representar coisas e ações em cada canal (ver/amarelo, ouvir/rangido, dor/sentir, provar/ácido, cheirar/fétido).
Atividade 10 – Contato com o mundo interior
Alguns dos nossos mapas dizem respeito ao contexto imediato. Faça isto por 30 segundos: de olhos fechados, note o que você "sabe" que está presente no contexto imediato: móveis, quadros, cores, sons.
Atividade 11 – Canais de representação
Acesse as representações pedidas em cada item:
a)     Imagine um copo com a sua bebida favorita.
b)    Imagine-se dizendo: "Parece gostoso!"
c)     Imagine-se pegando o copo.
d)    Imagine-se aproximando a xícara do nariz e o cheiro penetrando pelo seu nariz.
e)     Imagine-se tomando um golinho e fazendo "Hmmm!!" .
Atividade 12 – Canais de representação 2
Lembre-se durante alguns segundos de:
a)     Uma paisagem que lhe chamou a atenção.
b)    Uma melodia que adora.
c)     Quando recebeu um de seus carinhos preferidos.
d)    Um sabor que lhe é muito prazeroso.
e)     Um dos seus cheiros preferidos.
f)     Algo que disse hoje para alguém.
Atividade 13 – Tempo
Nossos mapas podem estar associados a referências de tempo. Para verificar isto, lembre-se de uma cena passada em você se divertiu. Agora lembre-se de alguma cena semelhante que poderá ocorrer no futuro. Quais são as diferenças entre as imagens? A localização no espaço é diferente? A luminosidade é diferente? As molduras, se tiver, são diferentes? Uma é mais distante do que a outra?
Atividade 14 – Vendo um objetivo
Pense em algo que queira, em qualquer ponto do futuro. Como representa isto internamente? Você vê imagens ou filmes? Um só ou vários? Você vê como já tendo conseguido? Há algum desdobramento ou encadeamento desse objetivo com algum outro? Verifique se você pode interferir nas representações e mudar alguma coisa no conteúdo das imagens.
Atividade 15 – Contato com o mundo interior 2
Tome um banho no escuro completo ou de olhos fechados.
Atividade 16 – Leitura: Consciência situacional

Quem já não teve calafrios ao ver as acrobacias da Esquadrilha da Fumaça? Como será que eles conseguem coordenar suas ações tão precisamente, em um contexto de tanto perigo? Na verdade, os pilotos usam para isto uma habilidade que todos nós temos, embora talvez não tão treinada.
Quer ver? Abra bem os olhos: você está consciente do que está lendo agora. Agora, sem olhar, lembre-se de algo que esteja atrás de você. Isto também é uma forma de consciência, de algo que você não está percebendo diretamente. A consciência que temos do contexto imediato e das coisas que são importantes, em um determinado momento, é chamada pelos pilotos de consciência situacional (em inglês, situational awareness). Quanto mais o piloto tem noção de como está o ambiente à sua volta, maior é a sua consciência situacional. Isto inclui a posição atual e o curso da aeronave, os recursos disponíveis e a evolução de fatos que podem afetar as coisas mais tarde (por exemplo, o curso de outro avião próximo).
Se você é motorista, sabe que é fundamental ter ciência de onde está, para onde está indo e como irá chegar lá. Também avalia a evolução de fatos, como por exemplo o que farão (provavelmente) os pedestres e outros carros. Tudo isto e outras coisas fazem parte da consciência situacional dos bons motoristas. Diga você: quem terá mais consciência situacional, uma pessoa que dirige com os olhos fixos à frente ou alguém que de vez em quando olha os retrovisores?
Já de uma pessoa que está agindo de maneira "desastrada" podemos afirmar que está com a consciência situacional incompleta, isto é, ela não tem naquele momento noção completa do que há de relevante no contexto imediato.
Vale notar que a atenção da pessoa, para uma maior consciência situacional, deve estar no momento presente (lembra-se do artigo sobre "agorizar", no número 4?). Dirigir pensando nas coisas agradáveis que acontecerão no destino diminui as chances de chegar lá!

Portanto, expandir a consciência situacional aumenta diretamente a segurança física e psicológica, a objetividade e competência em geral. Para resumir, expande a inteligência.

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